Case: Contexto de conflito social é gerenciado com diálogo e construção coletiva de soluções
Resumo
Uma comunidade marcada pelo sentimento de perda de relevância histórica, por uma cultura paternalista lapidada por anos e anos de práticas geradoras de dependência e, mais recentemente, pelo êxodo de sua população em busca de novas oportunidades. Tudo isso permeado por um sentimento de baixa autoestima individual e coletiva, provocando um explícito esgarçamento no tecido social local. A Bridge Gestão Social foi contratada para atuar neste território visando a redução de tensões e conflitos latentes que quebravam as conexões e laços preexistentes entre moradores da região, dificultando qualquer iniciativa de relacionamento empresa-comunidade. Para lidar com a complexidade da situação, partimos da proposta dos Círculos de Paz como inspiração para nossa intervenção.
Justificativa
Quando a Bridge foi procurada, a demanda era, então, apoiar a empresa na solução de conflitos internos à comunidade que se encontrava polarizada. Isso repercurtia nas diversas tentativas de aproximação por parte do empreendedor, ainda que as ações buscassem o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida da população local.
Tais divergências aguçavam as divisões internas à comunidade e repercurtiam negativamente na reputação empresarial, não sendo raras, inclusive, as iniciativas de bloqueio de rodovia que impactavam nas operações do empreendimento.
Metodologia
Partindo de uma das premissas que orientam o trabalho da Bridge (“para fazer a ponte é preciso conhecer as duas margens do rio”) , o primeiro passo foi, então, compreender o contexto também sob a perspectiva da comunidade. Para isso, foram feitas rodas de conversa com alguns grupos da comunidade convidados a conversar sobre aspectos da vida no lugar, apoiados pela
metodologia Bridge
Janelas Abertas - dedicada ao diagnóstico pela arte.
Validação de resultados
Concluídas as rodas de conversa, constatamos a raiz das tensões.
Além do conflito central que passou a permear o convívio local, as relações eram agravadas por decisões da empresa que impactavam a vida das pessoas, mas que eram tomadas sem o envolvimento dos moradores. Situações tão simples quanto a interdição de estradas para obras de melhoria, mas que, não informadas previamente aos moradores, causavam transtornos para quem precisava sair ou chegar à comunidade. Notou-se, portanto, uma extensa pauta com assuntos do convívio empresa-comunidade que requeriam tratativa esclarecedora, respeitosa, direta e antecipada.
Tal diagnóstico foi apresentado à comunidade em reuniões com o propósito de buscar a validação em relação aos problemas apurados pela consultoria. Uma reunião também foi feita com a empresa.
Mudança que gera resultado
Apoiados na perspectiva da Transformação de Conflitos, que nos mostra a necessidade da mudança dos padrões de relacionamento para que um conflito seja transformado, instituímos, com a participação do empreendedor, as reuniões de “limpeza de pauta”.
O objetivo era cocriar novas práticas no relacionamento empresa-comunidade. Os diversos temas de conflito identificados foram sendo trabalhados numa espécie de acupuntura social.
Com o passar do tempo, a empresa foi se estruturando para o trabalho de Relacionamento com Comunidades. Formou equipe dedicada, cresceu orçamento, implantou novas medidas e incrementou outras já vigentes, dando melhor direcionamento a elas. Mais recentemente, a organização conquistou a certificação IRMA (Institute for Responsible Mining Assurance), um padrão globalmente reconhecido que atesta o comprometimento de empresas com práticas de mineração e extração responsáveis, éticas e sustentáveis.
Resultados alcançados
Não se pode dizer que este trabalho deu conta da eliminação completa do conflito, até porque este extrapolava os limites da organização. Contudo, no que tange ao relacionamento empresa-comunidade, alguns aspectos importantes foram alcançados como resultado desta intervenção:
- Suspensão dos fechamentos de estrada como forma de protesto por parte da comunidade;
- Realização de audiência pública em 2023 com ampla e positiva participação da comunidade;
- Em 2025, conquista da certificação de mineração responsável IRMA - Institute for Responsible Mining Assurance, um padrão globalmente reconhecido que atesta o comprometimento de empresas com práticas de mineração e extração responsáveis, éticas e sustentáveis.
- Implantação de mecanismo de queixas e reclamações que passou a oferecer melhor gestão dos riscos sociais do negócio e, portanto, ganho em previsibilidade, além de maior celeridade na tratativa das questões apresentadas pela comunidade;
- Posicionamento franco e estruturado do empreendedor prevenindo boatos que mantinham acesos temas críticos para a comunidade, como especulações acerca de realocação da população;
- Implantação de mecanismo participativo de seleção de projetos sociais a serem apoiados pela empresa em benefício da comunidade;
- Fortalecimento da gestão a partir da estruturação de equipe dedicada ao Relacionamento com Comunidades;
- Capacitação para o diálogo social baseado nas premissas da Comunicação Não-violenta para vários grupos de profissionais – diretos e contratados, de diferentes estratos da organização;