Case: Comitês – espaços de diálogo construtivo

Ideal sugerir, nem sempre fácil de aceitar, e desafiador para estruturar. Os comitês desempenham um papel crucial na construção de relacionamentos positivos e sustentáveis entre grandes empreendimentos e as comunidades vizinhas, favorecendo um ambiente de cooperação e respeito mútuo. 


São instâncias que facilitam a troca de informações, contribuindo para a construção de confiança. Permitem que as organizações entendam melhor as necessidades e preocupações locais; podem apoiar na identificação de potenciais parcerias entre ambas as partes; ajudam a prevenir e mediar conflitos; podem fortalecer a imagem da empresa como organização socialmente responsável e comprometida com o desenvolvimento sustentável e ainda contribuir para o monitoramento contínuo dos impactos das operações, permitindo ajustes e melhorias nas medidas de mitigação e controle. Mas, principalmente, os Comitês são espaços para conhecer os mitos e boatos circundantes e, em respeitos àqueles que vivem no lugar, prestar esclarecimentos e informações.


Seriam perfeitos os comitês, se não fossem tão desafiadores. Ocorre que na grande maioria das vezes, a decisão de implementá-los perpassa contextos críticos, em que as comunidades já manifestaram sua indignação e resistência, seja pela percepção de que estão sendo ou serão muito prejudicadas, apontando um certo “descaso” do empreendimento até aquele momento. 


Romper essa resistência exige coragem para lidar com as incertezas decorrentes da indignação já instalada no território, demanda o reconhecimento de falhas tanto no processo de relacionamento e diálogo, como no frágil cuidado com as comunidades vizinhas impactadas de diversas formas. Requer resiliência. 


Ainda que atravessemos essas barreiras, encontramos, na outra parte, pessoas e comunidades com diferentes graus de maturidade em sua organização social, o que interfere diretamente na dinâmica e na eficácia do funcionamento dos Comitês. 



É tateando aqui e ali, que vamos descobrindo caminhos possíveis e desvendando os meandros das múltiplas realidades para alcançar o objetivo proposto. Cada comunidade é única, mesmo que habitando em um mesmo território. Embora impactadas pelo mesmo empreendimento, respondem de maneira diferente aos desafios encontrados. 

São muitos os matizes. Assim, abordaremos algumas experiências da Bridge Gestão Social na constituição de Comitês de Acompanhamento de novos projetos, com as dores e delícias vivenciadas nesses processos.


A primeira delas refere-se a constituições de três Comitês, em três comunidades de um mesmo território, para projetos distintos de um mesmo empreendedor. A segunda, refere-se à elaboração de um diagnóstico para entendimento do perfil de 15 comunidades que integram a área de influência direta de um único projeto, a fim de avaliar em quais delas serão constituídos comitês para acompanhamento do projeto. Claro, a escolha perpassa pelo atendimento a critérios de criticidade, proximidade e maturidade de organização social, portanto de capital social. 


Comitês para mediar conflito já instaurado

Buscando o fortalecimento do diálogo, a Bridge Gestão Social implementou e está conduzindo as reuniões de comitês de acompanhamento em três comunidades de um município da Grande BH. São três comunidades do mesmo território, impactadas por projetos diferentes de um mesmo empreendedor.


Os comitês têm composição tripartite tendo como objetivo estabelecido, em comum acordo com os participantes, incentivar a participação ativa dos moradores, resultando em um eficiente mecanismo de comunicação entre o empreendedor e as comunidades vizinhas, estabelecendo uma ligação institucional entre a empresa, as comunidades localizadas nas áreas diretamente afetadas (ADA) e o poder público.


Planejados para funcionar como espaços estruturados para o diálogo, nas reuniões realizadas periodicamente são discutidos temas relevantes para os moradores e a empresa, como o detalhamento de projetos de expansão, a divulgação de medidas de controle ambiental, os resultados de programas socioambientais e socioeconômicos implementados no município, a divulgação de oportunidades de trabalho, bem como outros temas de interesse comunitário. Também são realizadas devolutivas relacionadas às demandas apresentadas, buscando o fortalecimento da confiança entre todos os envolvidos no processo.

Desafios? Muitos.

Embora figurem como importantes instrumentos de governança, os comitês também enfrentam uma série de desafios que podem comprometer sua eficácia. Um dos principais deles está no engajamento e participação dos integrantes, já que a baixa adesão das pessoas pode comprometer o funcionamento do Comitê. Essa dificuldade está diretamente relacionada aos diferentes níveis de maturidade na organização social das comunidades mas, principalmente, à capacidade empresarial de lidar com os temas surgidos nas reuniões. 


A falta de clareza sobre os objetivos e funções do comitê podem figurar como um gargalo na implementação junto às comunidades, se tornando um dos principais pontos de atenção do processo.


 Além disso, existe o desafio da participação qualificada, pois nem sempre os membros do comitê possuem conhecimento técnico ou experiência suficiente para debater sobre questões complexas, demandando atenção quanto à linguagem empregada pelos mediadores e representantes da empresa, sendo necessário, muitas vezes, o uso de materiais gráficos didáticos para apoiar o entendimento. 


Visando o fortalecimento do canal de diálogo estabelecido pelos comitês, realizar as devolutivas de forma clara, objetiva e dentro do prazo acordado, é fundamental para manter a confiança entre o empreendimento e as partes interessadas. Por outro lado, a ausência de clareza ou de regularidade nas devolutivas pode gerar dúvidas e desconfiança, comprometendo a eficácia do processo e as relações institucionais. 



Esses desafios são atravessados ainda pelo grau de maturidade de organização social de cada uma das comunidades. Naquela em que a organização é estruturada, a constituição do comitê funcionou de forma orgânica, com participação regular e qualificada, com questionamentos embasados e reflexões críticas referentes à atuação do empreendimento. O espaço para diálogo foi estabelecido de forma respeitosa, sendo tratados assuntos sensíveis para ambas as partes. Pode-se dizer que a participação no Comitê favorece ainda mais o capital social local, para além da governança do processo. Isso porque o posicionamento dos participantes é apresentado publicamente, merecendo – ou não – validação coletiva e perpassado por uma relação de confiança vocalizada em vários momentos.   

Oportunidades

Diante desses desafios, a equipe técnica da Bridge identificou as seguintes oportunidades e recomendações técnicas para o fortalecimento dos comitês:

  • Promoção do engajamento ativo por meio de uma comunicação transparente e dinâmica nos territórios.
  • Promoção do acolhimento de crianças durante a realização das reuniões para favorecer a participação e engajamento dos pais nos comitês.
  • Criação de Regimento Interno claro e inclusivo, evitando que o Comitê se torne palco para questões políticas. 
  • Realizar a gestão dos temas debatidos e monitoramento das devolutivas.

Criar um ambiente atrativo e produtivo que estimule o engajamento ativo e contínuo das pessoas; e, principalmente, abrir-se para promover mudanças à partir das demandas apresentadas, são posturas essenciais na implantação de comitês de acompanhamento, fortalecendo a participação e o controle social como diretrizes indispensáveis na construção de relações colaborativas. 

Um passo atrás

Com o propósito de aprimorar a estratégia para constituição de comitês, entendeu-se a importância de dar um passo atrás e conhecer o grau de maturidade das comunidades no que tange à presença de lideranças, grau de organização comunitária, presença de terceiro setor e estratégias utilizadas na resolução de problemas coletivos – ou seja, avaliar a qualidade do capital social local. A hipótese adotada é que, ao mapear esses aspectos de antemão, reduz-se a necessidade de correções de rotas futuras, contribuindo para maior assertividade, funcionamento orgânico e legitimidade de todo o processo. 


Assim, e com o desafio de implantar comitês para acompanhamento de projeto na fase de implantação para um novo cliente da Bridge, localizado ao Norte do Brasil, foram realizadas 15 reuniões em todas as comunidades vizinhas ao empreendimento e nas sedes dos municípios. Neste caso, foram adaptadas as metodologias específicas para entendimento da organização social, aliadas à observação da criticidade, nível de conhecimento do contexto do território, qualidade das argumentações e manifestações feitas durante os encontros.


O cruzamento dessas informações permitiu-nos avaliar os diferentes estágios de organização social direcionando esforços iniciais para implantação dessas instâncias de diálogo em comunidades com organização social mais madura. Em um segundo momento, estruturamos processo de letramento nas demais até que alcancem estágio favorável à implantação de Comitês, garantindo efetividade e continuidade. 



Ainda que se trate de um método mais moroso e oneroso, podemos considerá-lo como “o curto caminho longo”. Ou seja, demora-se mais para implementar alcançando-se, contudo, maior efetividade e longevidade na iniciativa. Metodologias e governança para implantação de Comitês não são tão diversas, mas as comunidades e seu contexto sim. Aprofundar nessa camada pode favorecer a construção de espaços genuínos de diálogo, partilhas e negociações respeitosas com ganhos efetivos para ambos os lados. 

Considerações finais

Este artigo explorou distintas experiências da Bridge Gestão Social na constituição de Comitês de Acompanhamento da Implantação de Projetos em contextos críticos e comunidades de diferentes perfis.


Os comitês desempenham um papel crucial na construção de relacionamentos positivos e duradouros entre grandes empreendimentos e as comunidades vizinhas, favorecendo um ambiente de cooperação e respeito mútuo. São instâncias que facilitam a troca de informações, ajudando na construção de confiança e permitem que as organizações entendam melhor as necessidades e preocupações locais.


Dentre os ajustes de rota adotados para garantir a efetividade na primeira experiência aqui relatada, estão estratégias para engajamento, participação qualificada e cumprimento de compromissos com as devolutivas de tratativas referentes a dúvidas e receios dos moradores. O protagonismo da narrativa por parte do empreendimento é essencial para mitigar boatos e ruídos que, de outra forma, fomentariam a reatividade dificultando a criação de espaços de diálogo. 


No segundo caso relatado, adotou-se a estratégia de avaliar o estágio de organização social de diversas comunidades – considerando ainda contexto e criticidade, - a fim de direcionar os esforços para a constituição de Comitês onde encontramos maior maturidade.


Na prática, isso ofereceu maior efetividade para o engajamento dos participantes. De forma concomitante, naqueles espaços em que há oportunidades de ampliação da maturidade, deve-se estruturar processos de suporte e qualificação para, futuramente, constituir tais instâncias de diálogo, de maneira que estas oportunizem conversas produtivas.

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